Artistas independentes tomam a capital mineira

13/06/2011 13:04

 

 Ana Luiza Gonçalves

Espaço em mídia e para apresentação e também a falha na formação de público são alguns dos itens de uma longa lista de obstáculos enfrentados pelos artistas que produzem trabalhos independentes em Minas e em qualquer outro lugar. Belo Horizonte, considerada a capital dos bares, tem uma boa estrutura para receber estes músicos, mas a cena independente parece não ser vista com bons olhos pelos belorizontinos. Eventos, editais de patrocínio, festivais e leis de incentivo são opções acatadas pelos artistas como forma de apresentar o trabalho concluído. Geralmente, quem faz parte do cenário independente participa integralmente do desenvolvimento do trabalho, que vai desde a elaboração do projeto passando pela construção do encarte e material até o momento do lançamento e apresentação do trabalho.
Minas Gerais já tem nomes consagrados na história da música brasileira e esse número vem crescendo graças aos bons trabalhos desenvolvidos e o reconhecimento de grandes gravadoras. Até 2002, Marina Machado era apenas uma cantora da cena independente de Minas até ser assistida e aplaudida pelo seu então padrinho Milton Nascimento, que levou seu talento para o mundo. Com a vocação reconhecida, hoje a cantora desenvolve seu trabalho pelo selo do padrinho, Nascimento Music. Outra cantora que ganhou destaque em Minas foi Aline Calixto. Depois de muitas apresentações em bares da capital e do interior, a voz poderosa da artista conquistou os responsáveis da Warner Music. Seu primeiro cd, que leva o nome da cantora, saiu pela gravadora e este ano, Aline lança o segundo “Flor morena”.
Quem não teve a sorte de ser apadrinhada por outro nome consagrado ou não conseguiu chegar às gravadoras, vem tentando de alguma forma conquistar o espaço em Belo Horizonte. A capital mineira recebe grandes festivais e concursos que proporcionam a entrada da música independente nos espaços da cidade e estes eventos é também uma forma de gerar algum trabalho para estes artistas. A cantora Nathy Faria, que está trabalhando para lançar seu primeiro cd ainda este ano, confessa que estes eventos deram um impulso na sua carreira por causa dos contatos estabelecidos. “Os festivais que participei em Minas sempre me colocaram em contato com ótimas pessoas, um intercâmbio entre pessoas ligadas à música. Além disso, estes eventos trazem um público diferente do que se está acostumado, é o  público de uma outra banda que vai assistir a sua e vice-versa.”, relata.
    Nathy Faria diz que a proposta de bandas se juntarem em coletivos amplia o espaço do mercado, mas os artistas não pensam como grupo e estão preocupados em sair do circuito de Minas do que contribuir para que ele cresça. “O artista independente, em geral, tem que trabalhar duro e formar seu público, fazer com que as pessoas conheçam o trabalho e isso em Minas não é tão fácil.” O cenário tem muitas bandas, porém poucas têm destaque em participação de eventos ou em aparição de mídia.
Já a cantora Erika Machado, que tem três CDs gravados e é parceira de Marina Machado e Fernanda Takai, conta que o primeiro cd foi gravado por uma gravadora do Rio de Janeiro chamada Indie Records e que isso contribuiu para divulgar seu trabalho, mas que ela prefere ser artista independente. “Sinto mais conforto sendo uma artista independente. Se alguém vier com uma proposta, claro que vou querer saber qual é, mas não estou procurando.”, conta. A cantora se sente triste com o fato de a música independente não atrair tanto a população mineira, que prefere freqüentar mega eventos produzidos na cidade. “Eu sou ruim para falar dessas coisas, eu sempre acabo reclamando de Belo Horizonte. Não sei se tem alguma coisa a ver com os preços dos ingressos para assistir a shows de música independente, pois quanto custa mesmo um abadá pra assistir o axé? Alguma vez ficou vazio?”, desabafa.
A proposta deveria ser aproximar o público da arte de fazer música e tentar organizar uma rede eficaz para a troca de experiência, contato com o artista e divulgação da música mineira. A produção da música independente em Minas vem crescendo e sendo reconhecida, mas ainda falha em questões de divulgação e formação de público. Mesmo com tantos eventos incentivadores da cena independente, os artistas mineiros se sentem prejudicados e acham que Belo Horizonte não auxilia tanto na sustentabilidade da música, pois não há muitos lugares abertos para a música própria.